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Guilherme Giorelli

Um tipo de ômega 3 pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares

Guilherme Giorelli

01/12/2018 04h00

Crédito: iStock

Poucas pessoas entendem o que é ômega 3, mas quando leem em algum lugar, logo associam a saúde. Será que ele funciona mesmo? Na medicina não existem respostas tão simples, para sabermos se uma medicação funciona ela passa por várias fases de testes. Quando se chega na fase de estudo em humanos, as perguntas cientificas precisam ser muito precisas. Então uma pergunta melhor seria: quem pode se beneficiar da suplementação de ômega 3?

O ômega 3 é um tipo de gordura poli-insaturada encontrada principalmente em peixes marinhos de água fria como o salmão e o arenque, mas também pode ser encontrado em algumas plantas como o óleo de linhaça. Existem dois principais tipos: ácido docosahexaenóico (DHA) e ácido eicosapentaenoico (EPA).

Como já mostramos aqui na coluna o ômega 3 rico em DHA mostrou ser eficaz em reduzir sintomas de ansiedade. Já o EPA tem sido mais estudado na prevenção cardiovascular. No ultimo congresso da AHA (American Heart Association), um dos maiores congressos de cardiologia do mundo, que ocorreu em novembro em Chicago, foram divulgados os resultados de um grande estudo, que também foi publicado na revista The New England Journal of Medicine.

Trata-se de um estudo randomizado, duplo-cego, ou seja, os pesquisadores distribuíram aleatoriamente em 2 grandes grupos 8.179 pacientes com mais de 45 anos que tivessem doença cardiovascular estabelecida ou diabetes mellitus e com triglicérides elevados (135-500 mg / dL) e LDL controlado com uso da medicação estatina (entre  41 a 100 mg/ dL)

Um grupo recebeu a medicação icosapent ethyl na dose de 4 g por dia e o outro placebo (um óleo mineral sem efeito). Ambos foram acompanhados por aproximadamente 5 anos (4,9-6,3 anos). O icosapent ethyl é um éster etílico de EPA (tipo de ômega 3) altamente purificado e estável que demonstrou baixar os níveis de triglicerídeos e é usado como adjuvante da dieta em pacientes adultos com níveis de triglicérides de pelo menos 500 mg/dL. Podendo ter propriedades antiinflamatórias, antioxidantes, estabilizadoras de placa e estabilizadoras de membrana.

O objetivo principal foi investigar se o uso da medicação nessa quantidade diminuía na população estudada:

  • Morte por doença cardiovascular;
  • Infarto do miocárdio;
  • Acidente vascular cerebral (AVC);
  • Hospitalização por angina instável;
  • Procedimentos de revascularização coronariana.

Esse estudo tentou comprovar que a redução dos triglicerídeos, com a utilização do EPA, poderia levar a uma diminuição das doenças cardiovasculares, mesmo sem redução do colesterol LDL. Essa possibilidade tem grande impacto cientifico pois ate o momento a principal droga utilizada para diminuir doenças cardiovasculares são as estatinas, que diminuem o LDL.

As doenças cardiovasculares são as principais causas de mortalidade no mundo! E uma medicação capaz de reduzir esse risco logo ganha muita importância para a saúde pública.

Os resultados do estudo  foram muito empolgantes:

  • O risco relativo de doenças cardiovasculares foi significativamente reduzido em 25%, com uma redução de risco absoluto de cerca de 5%;
  • Triglicerídeos foi reduzido em cerca de 20%.

Os resultados  sugerem que pelo menos parte do efeito do icosapent ethyl, que resultou em um risco menor de eventos isquêmicos do que com o placebo, pode ser explicado por efeitos metabólicos além da redução dos níveis de triglicerídeos.

Os eventos adversos foram semelhantes nos dois grupos, o grupo recebendo a medicação apresentou mais sangramentos e arritmia, embora as taxas gerais tenham sido baixas.

Esse estudo foi patrocinado pelo fabricante da medicação Icosapent ethyl (Amarin Pharma), realizado em 11 países com 473 centros participantes, sua força estatística é muito grande e seus resultados são um grande avanço para prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes com doença cardiovascular estabelecida.

Os resultados do estudo não devem ser generalizados para outras preparações de ômega 3. Suplementos dietéticos podem ter preparações misturadas de ácidos graxos, que são variáveis e não reguladas e sem benefício clínico comprovado.

Os estudos com ômega 3 sempre geram muita repercussão no meio médico, pois apresentam resultados conflitantes, que variam de acordo com a população estudada e a dose utilizada de DHA e EPA.

O que nos podemos levar desse estudo é que nos tempos atuais, em que nos alimentamos tão mal com comidas industrializadas, muito calóricas e sem valor nutritivo, devemos nos esforçar para ter uma alimentação mais saudável e rica em ômega 3.

Se você já apresenta alguma doença cardiovascular pode conversar com o seu médico se poderá se beneficiar da suplementação de EPA. Procure um profissional de saúde de sua confiança!

E lembrando, que com ou sem EPA precisamos colocar o coração para malhar fazendo exercícios!

Bons treinos!

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.