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Guilherme Giorelli

Jejum intermitente: entenda por que comer pela manhã é melhor que a tarde

Guilherme Giorelli

29/09/2018 04h00

Crédito: iStock

Os primeiros trabalhos científicos realizados em seres humanos sobre Jejum Intermitente (JI) foram publicados há mais de uma década atrás, em 2005.  Nesses últimos 13 anos, a discussão rompeu as barreiras da ciência, tendo sido vendido mais de 1 milhão de livros só nos EUA , como já falamos aqui na coluna.

Grande parte dos artigos publicados sobre o jejum intermitente demonstraram seu beneficio para a saúde. O JI pode diminuir a ocorrência de novos casos de diabetes e AVC, além de ser uma estratégia útil para melhora da sensibilidade da insulina, reduzindo os níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos além da diminuição da gordura corporal.

Mas você sabe por que isso acontece? Fique tranquilo se sua resposta foi negativa, pois até esse momento nem a ciência tem essa resposta exata.

Não se sabe se esses benefícios são exclusivamente devido à perda de peso (que comprovadamente a dieta provoca) ou se realmente ficar algumas horas em jejum pode ter benefícios extras. Estudos em ratos sugerem que o jejum intermitente melhora a reposta metabólica do organismo mesmo que não haja perda de peso.

Para responder a essa pergunta em humanos, pesquisadores da Pennington Biomedical Research Center, um dos maiores centros de estudo de obesidade do mundo, desenvolveram um novo tipo de jejum intermitente, com duas característica bem marcantes:

  • Não é necessário diminuir a quantidade total de calorias ingeridas
  • O horário da alimentação tem que ser até 15 horas (e num intervalo máximo de 6 horas)

A escolha do horário da alimentação foi determinada por alterações do ritmo circadiano. Em outros estudos se testou comer somente das 16 horas até às 23 horas, porém o resultado foi pior, com piora da pressão arterial, aumento da glicose e do colesterol.

A possível explicação está nas diferentes maneiras como o organismo reage ao longo do dia. O metabolismo da glicose e das gorduras é regulado pelo ritmo circadiano e pela manhã está mais eficiente. Quando comparado com comer à tarde ou à noite, comer pela manhã leva a uma melhor sensibilidade à insulina e maior gasto de calorias.

Logo surgiu a hipótese de unir as duas estratégias: fazer jejum intermitente + comer apenas pela manhã (das 8 até 15h)

Os autores chamaram em inglês de ''early time-restricted feeding'' e o que seria traduzido como alimentação restrita ao período matinal ou comer intermitente matinal.

Para testar essa nova dieta, os cientistas realizaram um estudo com apenas 8 pacientes homens com excesso de peso e pré-diabéticos.

Esses pacientes foram submetidos aleatoriamente a dois tipos de dieta com a mesma quantidade de calorias:

  • Dieta comer intermitente matinal – refeições (café, almoço e jantar) dentro de um período de 6 horas, que começava pela manhã e se encerrava até as 15:00 horas, e completado 18 horas de jejum.
  • Dieta controle – os pacientes comeram a mesma quantidade e qualidade de comida que durante a outra dieta, porém realizaram suas refeições (café, almoço e jantar) dentro de um período de 12 horas e completaram 12 horas de jejum.

Resultados: Como o consumo de calorias foi o mesmo, não se teve diferença na perda de gordura ou peso corporal. Porem na dieta comer intermitente matinal houve redução dos níveis de insulina, melhora da sensibilidade à insulina e redução da pressão arterial.

No termino do estudo, a maioria dos participantes acharam que a dieta Comer intermitente matinal seria viável, pois ela diminuiu a vontade de  comer e aumentou a saciedade.

O estudo certamente tem suas limitações, o grupo estudado foi pequeno e apenas homens, porém foi o primeiro ensaio controlado de alimentação controlada para testar os benefícios do jejum intermitente independentes da perda de peso, e mostrou com sucesso que a combinação de jejum intermitente diário e comer em alinhamento com os ritmos circadianos no metabolismo melhoram a saúde cardiometabólica.

Talvez essa possa ser uma boa estratégia para a sua alimentação. Converse com um profissional de saúde de sua confiança e não se esqueça de se exercitar.

Bons treinos!

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.