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Guilherme Giorelli

Jejum intermitente: qual é o peso desta dieta na sua balança?

Guilherme Giorelli

05/05/2018 07h12

Diminuir a quantidade de calorias na alimentação é a principal estratégia de todas as dietas. Acredite: se voce estiver ingerindo mais calorias do que gastando, seu organismo será obrigado a armazená-las na forma de gordura.

Em outra coluna aqui no blog, já falamos como fazer para estimular o gasto de calorias. Hoje vamos falar sobre como diminuir a quantidade de calorias ingeridas. Ou seja, sobre estratégia alimentar.

Toda dieta é uma estratégia alimentar. Muitas delas, estão publicadas em artigos científicos que comprovam sua eficiência em diminuir a pressão arterial, glicose, colesterol e a circunferência abdominal.

Entretanto, existem diferenças entre um artigo científico e a vida real. Todo artigo tem uma metodologia rigorosa que deve ser seguida pelos participantes.  Se o paciente come aquele pedacinho de bolo a mais do que o combinado, ele é excluído do trabalho, por ter fugido da metodologia definida pelos autores.

No dia a dia, não temos alimentação somente de segunda a sexta, ela inclui o churrasco de domingo, a festa do Dia das Mães e muitas outras tentações que dificultam seguir corretamente as dietas propostas.

Portanto, não seria maravilhoso uma dieta cientificamente avaliada em se pudesse comer o que quiser em alguns dias e comer o combinado em outros?

Ela existe, se chama jejum intermitente. Mas não é uma só dieta, existem diversos modelos. Vamos entender:

Jejum:  definido pelo período sem o consumo de calorias, logo está liberado agua e outras bebidas como por exemplo café (sem açúcar, é claro).

Intermitente: significa período de tempo, que cessa e recomeça por intervalos.

Logo existem alguns modelos de jejum intermitente:

  • 5:2 ou 6:1 – uma ou duas vezes na semana a pessoa se alimenta com menos que 500Kcal, nos outros 5 ou 6 dias poderia comer à vontade;
  • 8/16 – A pessoa pode comer o que quiser por 8 horas, mas tem que jejuar por 16 horas (8 + 16 = 24 horas ou 1 dia);
  • Dias Alternados – Pode comer à vontade num dia, porem no dia seguinte é necessário comer menos que 25% da dieta habitual, aproximadamente 500 Kcal.

Para muitas pessoas, essas estratégias pareceram interessantes, mais de um milhão de livros sobre o JI foi vendido para o público leigo, somente no EUA. Mas o que será que dizem as pesquisas.

Essa semana foi publicada uma revisão sobre jejum intermitente que se propôs a avaliar todos os artigos publicados sobre jejum intermitente e perda de peso entre 1970 e 2018, na base de dados científicos pubmed.

Resultado: quase todos os trabalhos publicados com jejum intermitente têm uma comprovada perda de peso que varia entre 2,5 e 9,9% do peso inicial.

O que parece ser maravilhoso, mas precisa de ressalvas:

  • Na publicação, apenas um trabalho acompanhou os pacientes por 12 meses, a maior parte dos trabalhos tem duração de 3 meses.
  • Mostrar que a dieta com jejum intermitente tem resultado não significa que ela é melhor que a outras;
  • Na maior parte dos estudos, o grupo que faz jejum intermitente acaba comendo menos calorias que o grupo que não fez jejum intermitente.

Podemos concluir que é mais fácil fazer jejum intermitente. Afinal, alguns dias da semana podemos comer à vontade?

O unico trabalho que acompanhou os pacientes por 12 meses , publicado na revista Jama, foi realizado justamente com o objetivo de comprovar esse raciocínio. Porém, as evidências foram outras:

O artigo acompanhou 100 pacientes por 1 ano. Eles foram divididos em 3 grupos: 34 no grupo jejum em dias alternados, 35 no grupo que tinha que comer menos calorias e 31 num grupo controle que tinha que manter o peso, sem necessariamente seguir nenhuma dieta.

A perda de peso no grupo jejum alternado e no grupo redução de calorias foi igual, estatisticamente. Porém, a taxa de abandono foi de 38% no grupo de jejum e de 29% no grupo redução de calorias, até mesmo o grupo que apenas tinha que manter o peso teve 26% de abandono.

O trabalho, portanto, concluiu que a aderência ao jejum intermitente não é superior à  dieta de restrição de caloria. O que também não quer dizer que seja inferior. Temos, portanto uma interessante estratégia alimentar que pode ser usada nos pacientes, desde que haja uma boa aceitação.

Não existe uma dieta mágica que vai ajudar a todas as pessoas. O que existem são estratégias alimentares que devem ser individualizadas para cada paciente, de acordo com suas limitações –sejam elas de doenças já diagnosticadas, riscos genéticos ou desejo sociocultural.

A alimentação é parte da história das famílias e deve ser respeitada. Os benefícios da alimentação na saúde só aparecem a longo prazo.

Bons treinos!

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.