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Guilherme Giorelli

Bochechar carboidrato pode melhorar a performance esportiva?

Guilherme Giorelli

14/07/2018 04h00

Crédito: iStock

Durante a partida entre Inglaterra e Colômbia na Copa do Mundo, que teve 30 minutos de prorrogação e pênaltis, o jogador inglês, artilheiro da Mundial, Harry Kane, foi visto repetidamente espirrando uma bebida esportiva em sua boca, mas, em vez de ingerir, ele bochechava e cuspia!

Não só ele como Cristiano Ronaldo e muitos outros jogadores foram vistos praticando essa técnica que é conhecida como "Carb Rinsing" –ou traduzindo: Bochechar Carboidrato. Pareceu estranho? Vamos entender!

Desde a década de 1980 já se sabe que a ingestão de carboidrato durante exercícios prolongados –duração superior a 120 minutos — ajuda na melhora do desempenho. Quanto mais carboidrato disponível no sangue, mais fácil fica para que organismo o utilize como a principal fonte de energia, poupando e retardando o fim do estoque de carboidrato do fígado e do músculo (glicogênio hepático e muscular). Desta forma, o atleta consegue manter o exercício numa intensidade maior, durante mais tempo.

A observação de que a ingestão de carboidrato também pode melhorar o desempenho durante exercícios mais curtos é mais nova. Durante atividades com duração de até 60 minutos, as concentrações de açúcar no sangue não diminuem, a hipoglicemia não se desenvolve, e a diminuição dos estoques de carboidrato no nosso organismo não interfere no desempenho.

Entretanto, alguns trabalhos demonstram melhora no desempenho da ingestão de carboidratos em exercício curtos. Como explicar?

Um dos mecanimos propostos ficou evidente quando um estudo de 2004 (Carter et al.) mostrou que bochechar com carboidrato (sem ingerir!) resultou em benefícios de desempenho. Sem a ingestão de carboidrato não havia como explicar mecanismos metabólicos e surgiu a teoria com fatores que envolvem o nosso cérebro.

O mecanismo proposto seria que ao bochechar um líquido com carboidrato os receptores na boca enviam sinais para os centros de prazer e recompensa do cérebro, sugerindo que há mais energia a caminho, então os músculos podem se esforçar um pouco mais e não há razão para se sentirem tão fatigados.

Nesse estudo foram solicitados a ciclistas bochechar por 5 segundos com uma solução de carboidrato e depois cuspir em uma tigela durante um teste de 40 km de pedalada. O carboidrato utilizado foi uma solução de maltodextrina (uma carboidrato que não tem sabor). Esses atletas tiveram uma resposta 3% superior ao grupo que fez o bochecho com água.

Desde 2004, numerosos estudos investigaram os efeitos de bochechar carboidratos na boca, com a maioria demonstrando um aumento de desempenho, mas nem todos.

Dado que uma partida de futebol dura pelo menos 90 minutos e pode se estender por até 120 minutos quando há prorrogação, por que os jogadores optaram por bochechar carboidrato em vez de ingerir?

Alguns atletas relatam que a ingestão de carboidrato durante um exercício de alta intensidade pode levar a desconforto gastrointestinal. Bochechar o carboidrato pode ser uma alternativa útil para esse problema.

Não sabemos se o fato de apenas bochechar sem engolir carboidratos ajudou ou atrapalhou os jogadores da Inglaterra a chegar na semifinal da Copa do Mundo após 28 anos. Não existe um relato oficial da equipe inglesa afirmando que essa estratégia foi sequer utilizada pelo time.

Mas o Carb Rising tem sido cada vez mais estudado, os efeitos dos carboidratos sobre nosso organimo não podem ser explicados apenas como fonte rápida de energia, mais estudos estão sendo feitos para que possamos concluir esses novos mecanismos cerebrais.

Até o momento os estudos demonstram que bochechar líquido com carboidrato por 5 a 10 segundos pode melhorar o desempenho de exercícios de alta intensidade com duração de 30 a 70 minutos.

Enquanto novos estudos não são publicados, continue buscando um especialista para ajudar a otimizar sua alimentação e suplementação aos seu nível de exercício

Bons treinos!

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.