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Guilherme Giorelli

Musculação pode ser melhor que exercício aeróbico no tratamento de diabetes

Guilherme Giorelli

26/05/2018 04h00

Crédito: iStock

O diabetes mellitus é uma doença caracterizada pela elevação de açúcar no sangue. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, existem 425 milhões de pessoas que sofrem de diabetes no mundo, com aproximadamente 95% dos casos classificados como tipo 2 e 5% com tipo 1. Nos dois casos ocorre um aumento da glicose circulante, a diferença esta na causa.

Diabetes Tipo 1 (DM 1): é resultado da destruição das células beta pancreáticas por um processo imunológico, ou seja, pela formação de anticorpos pelo próprio organismo contra as células beta do pâncreas, levando à deficiência de insulina.

Diabetes Tipo 2 (DM 2): a insulina é produzida pelas células beta pancreáticas, porém sua ação está prejudicada, caracterizando um quadro de resistência insulínica.

Exercício físico, dieta e medicamentos representam pilares no tratamento do diabetes.

Qual exercício fazer: musculação ou aeróbico?

Atualmente, a recomendação de exercício físico da respeitada ADA (American Diabetes Association) aos pacientes com diabetes tipo 2 são :

  • 150 min por semana de atividade aeróbica moderada
  • ou 90 min por semana de atividade aeróbica vigorosa

Quando o paciente não tem contraindicação, o treinamento aeróbico constitui uma modalidade segura e eficaz no tratamento do diabetes, pois ele age no corpo imitando a ação da insulina, fazendo com que a glicose seja utilizada pela massa muscular. Mas apesar dos benefícios já comprovados e bem estabelecidos da atividade física aeróbica, mais de 60% dos pacientes com diabetes não praticam exercícios físicos regularmente.

Muitas vezes, a prática de treinamento aeróbico em moderada ou vigorosa intensidade pode ser incompatível com doenças associadas ao DM2, como obesidade, osteoartrite, distúrbios vasculares periféricos e outras deficiências físicas. Para muitos destes pacientes, a intensidade do exercício pode se tornar um problema, pois até mesmo 20 ou 30 minutos em pé pode ser difícil e doloroso, o que leva à diminuição da aderência ao exercício físico. Assim, torna-se urgente conceber alternativas de treinamento para pessoas com diabetes tipo 2.

O que fazer?

"Que a força esteja com você" é uma frase do filme Guerra na Estrelas, mas deve ser aplicada também quando falamos da nossa saúde. Ela inclusive foi título de um artigo publicado em maio no periódico Endocrine.

Exercício Resistido e Progressivo (RT), ou seja, musculação, com aumento progressivo da carga é uma sugestão para o tratamento do diabetes tipo 2. O treinamento de força consiste em breves exercícios repetitivos com pesos livres (halteres), aparelhos de musculação, bandas de resistência, exercícios isométricos, calistenia mobilizando o próprio peso corporal (por exemplo, flexões) para aumentar a força muscular e/ou resistência muscular.

O exercício resistido melhora o nível de açúcar no sangue e diminui a resistência à insulina, mesmo que não haja o aumento da massa muscular, ou melhor, ele consegue melhorar a "qualidade" do músculo. Quando a massa muscular aumenta, a sensibilidade à insulina melhora ainda mais, pois a massa magra é capaz de remover a glicose da corrente sanguínea, usando-a para produzir energia, mesmo depois de cessado o exercício.

Alguns trabalhos têm demonstrado que a musculação é mais eficiente que o exercício aeróbico para o tratamento de diabetes por poder ser realizada com mais segurança em pacientes com histórico de infarto, AVC, doenças articulares e vasculares.

Além do efeito direto sobre a glicemia também se observa:

  • Aumento da sensibilidade à insulina (Aumenta GLUT4);
  • Melhora do colesterol;
  • Diminuição da pressão arterial;
  • Melhora do desempenho cardíaco (aumento do VO2);
  • Aumento de força e poder muscular;
  • Aumento de magra massa corporal;
  • Aumento da densidade mineral óssea (com efeito preventivo sobre a sarcopenia e osteoporose);
  • Aumento do gasto diário de energia e qualidade de vida.

Mas como seria esse treinamento?

A diretriz do ACSM (American College of Sports Medicine) orienta os diabéticos a realizar musculação de duas a três vezes por semana, em dias alternados. Os pacientes devem realizar de cinco a 10 exercícios, incluindo agachamento, flexão, abdominais e extensão da perna. Assim, todos os principais grupos musculares estariam envolvidos. O ACSM ainda orienta executar de duas a três séries por exercício, de oito a 10 repetições, com uma carga de trabalho razoável (75 a 80% de uma repetição máxima, 1RM). As sessões devem ser iniciadas e finalizadas com cinco minutos de aquecimento.

Uma complexa variedade de fatores deve ser abordada ao prescrever exercício resistido a pacientes com DM2 ou pré-diabetes, como gravidade e duração da doença, presença de comorbidades, uso de medicações oral e insulinas e intensidade de força de treinamento.

Uma consulta prévia com um diabetologista ou médico de esportes para anamnese, exame físico e avaliação funcional (eletrocardiograma de repouso e teste ergométrico), se necessária, são altamente recomendados antes de se envolver em qualquer prática de atividade física. Assim como é fundamental ter um professor de educação física acompanhando para montar as séries e ajustar as cargas para cada paciente.

Idealmente, treinamento aeróbico e de resistência devem ser combinados com o objetivo de aumentar os benefícios para indivíduos com DM2.

Mas lembre-se: não adianta nada fazer exercício físico e exagerar na alimentação.

Bons treinos!

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.