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Guilherme Giorelli

Remédio contra impotência sexual pode ajudar na performance esportiva?

Guilherme Giorelli

06/04/2019 04h00

Crédito: iStock

Para haver ereção, um homem precisa aumentar do fluxo sanguíneo na região peniana. Durante o estimulo sexual, ocorre liberação de oxido nítrico no corpo cavernoso do pênis, que provoca o aumento de uma substância chamada GMP. O GMP aumenta o fluxo de sangue, produzindo a ereção. Entretanto existe uma enzima chamada de PD5-E, responsável pela destruição da GMP, o que pode acabar dificultando a ereção.

Em 1998 foi aprovado pelo FDA, a primeira medicação para o tratamento da impotência masculina: sildenafil. Essa medicação é um inibidor seletivo da PD5-E. Ao diminuir a PD5-E, há um aumento de GMP e mais fluxo de sangue, mantendo a ereção por mais tempo.

O que nem todo mundo sabe é que este efeito sobre a ereção foi descoberto como um efeito colateral. A medicação estava sendo investigada para o tratamento de hipertensão arterial e angina (dor no peito causado pela diminuição da chegada de sangue ao coração), pois a PD5-E está em várias artérias, principalmente na  artéria pulmonar –responsável por levar sangue para o pulmão.

Como a medicação contra impotência foi parar no esporte?

Estudando o mecanismo de ação do medicamento sobre o pulmão alguns pesquisadores, questionaram se essa medicação também poderia ser útil para a performance esportiva. Principalmente aquelas onde há baixa quantidade de oxigênio como nos casos de atletas que competem em cidades acima de 2.000 metros de altitude.

Explico: quanto maior a altitude, menor é a pressão atmosférica, ou seja, menos oxigênio disponível. Quando a quantidade de oxigênio no sangue diminui, ocorre um aumento da pressão da artéria pulmonar, e uma piora da capacidade do coração em bombear o sangue. O que piora a performance.

Em 2004, foi publicado o primeiro estudo sobre o uso de sildenafil e performance  sendo demonstrado uma melhora da capacidade atlética durante o exercício. Entretanto o estudo, não tinha pode estatístico para confirmar a hipótese: foi realizado com 14 escaladores que estavam subindo o monte everest.

Mesmo sem confirmação clínica e com a medicação não sendo declarada como dopping, a notícia se espalhou rapidamente. Muitas matérias jornalísticas foram feitas com relatos do uso por jogadores de futebol e outros atletas que precisam jogar em alta performance em cidades com altitude elevada.

No mês passado, março de 2019, foi publicado um grande estudo sobre o assunto. Afinal sildenafil ajuda ou não a performance esportiva?

Apenas 14 estudos puderam ser incluídos na pesquisa, porque os demais não passaram nos critérios de seleção. A conclusão:

  • Foi eficiente para diminuir a pressão da artéria pulmonar.
  • Foi discretamente eficiente para melhorar a capacidade do coração em bombear sangue
  • Não melhora a performance esportiva de forma significativa, mas talvez existam discretos benefícios.

O artigo de revisão sistemática, como foi o caso discutido na coluna de hoje, faz uma avaliação de todos os artigos encontrados sobre o tema, nas principais revistas científicas do mundo. Sua conclusão se refere ao estagio atual das pesquisas, o que não significa que novas publicações possam provar o contrário.A ciência esta sempre questionando verdades e encontrando novas respostas. Para isso, as vezes, muitos anos e muitas pesquisas são necessárias antes possamos concluir se uma substância pode ser útil ou não.

Precisamos respeitar o caminho da ciência, antes de ficar utilizando substancias sem comprovação.

Vivemos um mundo onde as fofocas de um artigo científico, tem mais impacto sobre a população do que o resultado do próprio estudo. O que pode ser muito perigoso! Por isso procure um profissional de saude da sua confiança, antes de arriscar um novo suplemento, ou medicação.

Sabe tem muita comprovação científica para melhorar a performance sexual e esportiva?

O exercício físico!

Bons Treinos!

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.