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Guilherme Giorelli

Ioga pode reduzir circunferência abdominal e evitar Síndrome Metabólica

Guilherme Giorelli

21/07/2018 04h00

Crédito: iStock

Ioga é uma filosofia de vida que compreende intervenções complexas, não apenas na aptidão física, mas também aconselhamentos de respiração e meditação para um estilo de vida ético. Além disso, o exercícios faz parte da prática espiritual indiana tradicional há mais de mil anos.

Apesar do objetivo original do ioga ser unir corpo, mente e espírito, alternativas nas técnicas têm se tornado muito populares, principalmente no EUA e Europa, por melhorar o bem estar físico e mental. Esses diversos tipo de ioga envolvem variações das técnicas físicas chamadas de asanas, respiratórias chamadas pranayama e de meditação chamadas de dhyana.

Atualmente 14 milhões de pessoas nos EUA praticam ioga por recomendação de médicos ou psicólogos e 80% dos praticantes referem que iniciaram a pratica para ter uma melhora na saúde.

Diversos trabalhos mostram que o ioga é eficaz em reduzir estresse e depressão, que são importantes fatores de risco cardiovascular. Mas será que a prática consegue ajudar pacientes com Síndrome Metabólica (SM)?

Segundo a última edição da Diretriz Brasileira de Obesidade, para um brasileiro ter o diagnóstico da Síndrome Metabólica é necessário, obrigatoriamente, que ele tenha uma circunferência abdominal aumentada ( maior que 90 cm para os homens e maior que 80 cm para as mulheres) e tenha ao menos mais 2 entre as 4 alterações: triglicerídeos, HDL, pressão arterial e glicemia de jejum.

De qualquer forma, a circunferência abdominal aumentada tem grande importância no diagnostico da SM, pois ela é uma maneira de se estimar a gordura visceral.

O tecido gorduroso é dividido didaticamente em subcutâneo e visceral. O subcutâneo é que aquele que está próximo a pele, aquela gordura que você nota no queixo, na dobra do sutiã ou nas dobrinhas da barriga. Entretanto, a gordura mais perigosa é a visceral, aquela que fica dentro da cavidade abdominal, ao redor dos órgãos.

A gordura visceral é associada com o aumento da hipertensão, pois ela produz citocinas inflamatórias como a PAI-1, visfatina e chemerina. Por outro lado, exercício físico, controle do estresse e diminuição da gordura, são as principais armas para diminuir essas citocinas inflamatórias.

Como o desequilíbrio entre essas citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias leva ao surgimento da SM, e a ioga atua como exercício físico e mental, cientistas começaram a analisar se o ioga pode ser uma ferramenta contra esta doença.

O estudo publicado foi realizado durante 1 ano com pacientes entre 30 e 80 anos, que tinham SM e hipertensão, sendo que eram 45 voluntários no grupo controle e 52 no grupo ioga.

Enquanto os participantes do grupo controle eram sedentários, o grupo de ioga fazia três aulas por semana, cada uma com 60 minutos de duração (divididos entre 10 min de aquecimento, 40 min de hata ioga e 10 minutos de relaxamento com exercícios respiratórios).

Não houve intervenção sobre a alimentação no estudo.

Qual o resultado? A pesquisa demonstrou que após 1 ano de ioga houve aumento de enzimas anti-inflamatórias como a adiponectina e a diminuição das enzimas inflamatórias como Leptina, chemerina e PAI-1, além da diminuição da circunferência abdominal e da pressão arterial sistólica.

Outros estudos e revisões já foram feitos para avaliar o ioga e alguns mostraram que a atividade é eficaz, mas outros não demonstraram significância estatística suficiente para que possamos recomendar a prática de ioga em todas as pessoas. Porém, é importante deixar claro que nenhum estudo contraindica a prática.

Minha opinião: ioga não é para todas as pessoas, assim como nenhuma dieta e nenhum medicamento irá resolver os problemas de todos os pacientes. Somos pessoas diferentes, com gostos, culturas e necessidades que devem ser respeitadas. Se você tem obesidade ou Síndrome Metabólica, procure seu médico para saber se você pode experimentar o ioga como parte de seu tratamento. A única certeza que envolve todas as pessoas é que nem seu corpo nem sua mente podem ficar parados.

Bons treinos.

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.