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Guilherme Giorelli

Inchaço após comer? O glúten pode não ser o culpado. Conheça a FODMAP

Guilherme Giorelli

06/01/2018 04h01

dor de estômago após comer

Crédito: Getty Images

Dor abdominal, inchaço e até mesmo diarreia. Você mal acabou sua refeição e já tem uma investigação para fazer. Quem será o culpado por esses sintomas? O glúten? O exagero? Ou seria algum tempero? Nos últimos anos, todos culparam o glúten como grande vilão. Se esse for o seu caso, saiba que existem exames diagnósticos bem definidos antes da retirada total do glúten. Saiba, também, que temos outros suspeitos.

A doença celíaca é o principal diagnóstico que leva à retirada total do glúten da dieta. Trata-se de uma alergia a essa proteína, que está presente no trigo, na cevada e no centeio. Seu diagnóstico deve ser pensado após sintomas como diarreia, inchaço e dor abdominal.  Mas, para ser confirmado, isso não basta. Ainda são necessários exames de sangue, onde se dosam anticorpos específicos para a doença celíaca, como anti-endomísio e o anti-transglutaminase. Caso o resultado seja positivo, a investigação precisa continuar com uma biopsia do intestino delgado, realizada por meio de endoscopia.

A moda da dieta sem glúten atingiu cerca de 100 milhões de pessoas só nos EUA, que impulsionaram a indústria de produtos gluten-free –alimentos sem a presença de glúten– mesmo sem o diagnóstico de qualquer doença. Muitas dessas pessoas apresentavam os sintomas clínicos da doença celíaca, porém não havia a confirmação por meio de exames complementares.

O número de pessoas com essas queixas foi tão grande que surgiu um termo para descrever estes casos: Não celíaco sensível ao glúten (NCSG).

Com esta nova nomenclatura se passou a estudar mais a fundo essas pessoas e se percebeu que o glúten não era o único vilão responsável por essas queixas gastrointestinais.

Para chegar a essa conclusão, foram necessários muitos estudos: um bom exemplo é o publicado na revista Gastroenterology. Nele, um grupo de pacientes NCSG foi submetido a alimentos com e sem glúten. Nem os pacientes nem os pesquisadores em contato direto com eles sabiam quais eram as refeições que continham ou não o glúten, somente os pesquisadores externos que analisaram os dados. A conclusão do trabalho foi que o glúten não tinha relação direta com as queixas dos pacientes, surgindo então uma dúvida: quem seria o novo responsável?

Uma possível explicação é a sensibilidade ao FODMAP. Trata-se de uma sigla em inglês com as iniciais de cada palavra: Fermentable Oligosaccharides, Dissaccharides, Monosaccharides and Polyols. Ou seja, estamos falando de outra característica presente nos alimentos, mais precisamente no grupo dos carboidratos.

Carboidratos não são todos iguais, e podem ser subdivididos de acordo com o tamanho da sua molécula em oligossacarídeo, dissacarídeos e monossacarídeos

No caso das FODMAP, estamos falando de carboidratos fermentáveis que não são digeridos no trato digestivo humano e por isso causam aquelas queixas de inchaço abdominal, ao serem fermentados após ação das bactérias intestinais.

Exemplos desses carboidratos fermentáveis, RICOS em FODMAP são principalmente a lactose e a frutose, encontrados em alimentos muito presentes em nosso dia a dia:  maçã, pera, leite (de vaca, cabra ou ovelha), iogurte. Frutanos e galactanos presentes no brócolis, cebola, couve-flor, pães e biscoitos contendo cereais como trigo e centeio e também o sorbitol e o manitol, muito presente como adoçantes.

A dieta FODMAP visa retirar por seis a oito semanas os alimentos ricos nesses carboidratos fermentáveis, visando a melhora dos sintomas. Após essa dieta de exclusão, os alimentos ricos em FODMAP devem ser reintroduzidos para avaliação de tolerância individualizada.

Lembre-se: você não é o que come!  Você é aquilo que seu organismo faz, a partir do que come. Novas dietas são bem-vindas, mas para terem sucesso precisam ser ajustadas não só para suas necessidades fisiológicas como também para seus desejos individuais. Antes de sair definindo quem é o vilão e quem é o bonzinho da sua alimentação, procure um profissional de saúde de sua confiança que te ajude neste equilíbrio!

Sobre o autor

Guilherme Giorelli é nutrólogo e médico do esporte e exercício. Fellow do International College for Advancement of Nutrology e com mestrado em vitamina D, ele organiza eventos científicos, além de ministrar aulas e palestras. Atualmente é diretor do SMEERJ (Sociedade de Medicina Esportiva e do Exercicio do Rio de Janeiro). Seu dia a dia, porém, é o atendimento de pacientes em sua clínica, que buscam cuidar da saúde por meio da alimentação e do exercício.

Sobre o blog

Este blog é para discutir, sob a ótica da nutrologia e da medicina do esporte, qual o impacto da alimentação sobre o nosso organismo, quais as suas relações com o exercício e como a suplementação pode ajudar. Afinal, todo dia existem novos artigos sendo publicados, novas verdades para serem aprendidas ou questionadas. A ciência nunca está parada, nem você deve ficar.